sábado, 12 de março de 2016

Obrigada por ficar



Meu pai sofreu um acidente. Tentando separar uma briga das nossas cadelas, acabou levando uma mordida na mão que custou um pedaço do dedo mindinho. Na hora do acontecido eu não estava em casa, estava com você, com os nossos amigos, era um domingo normal até então. Quando soube, fui correndo ao hospital para vê-lo, você sempre ao meu lado. O coração batendo forte de medo e preocupação, “caramba, meu pai!”, os olhos já marejados de lágrimas. Ainda bem que tu estavas ali.

Entrar naquele hospital sem jaleco, sem estar “no controle da situação”, procurando pelo meu pai, sem saber o que os colegas haviam feito na sala de pequena cirurgia, aguardar o parecer do médico especialista, nossa! Era torturante e já dava pra sentir o gosto de vômito nascendo na boca do estômago. Quando então conseguimos e ficou decidido que ele precisaria de uma cirurgia para cobrir a fratura óssea exposta, minha cabeça girava! Não importava que eu estivesse no final do 5º ano de Medicina. Não importava quantos pacientes em pré-operatório eu já tivesse acalmado e tranquilizado ao longo dessa jornada. Hoje era a vez do meu pai! Hoje era a minha vez de viver essa espera. Dava pra ver a aflição nos olhos dele e, apesar de querer, eu não podia chorar. 

O medo em mim também era evidente. Eu queria colo, queria que o meu pai me consolasse e dissesse que iria ficar tudo bem. Mas não dessa vez. Chega um momento na vida em que você praticamente vira “pai/mãe” dos seus pais e, além disso, naquela noite eu não podia ser somente “a filha”, eu precisaria ser também a médica dele. Ele confiava e esperava por mim. Vesti então o meu melhor e mais branquinho jaleco (internamente), coloquei um olhar confiante e decidido no rosto e o levei até a sala de cirurgia. Expliquei o procedimento, pedi que ele ficasse calmo, que seria rápido e que confiasse no médico. Como não permitiram que eu entrasse, esperaria do lado de fora.

Saí do centro cirúrgico com as mãos tremendo, o coração pesado de preocupação e dor. Em quem eu confiaria? Em quem eu me apoiaria? Então...  lá estava você. Sim, você, esperando do outro lado da porta e pronto pra me dar o melhor abraço que alguém poderia precisar naquele momento. Pronto pra passar a noite ao meu lado esperando por notícias. Pronto pra acolher a minha cabeça cansada, os olhos chorosos e as mãos suadas. Pronto pra ficar. Baixinho, agradeci a Deus e o meu coração, esperto, soube onde encontraria o seu abrigo.

Mamãe diz que desde que eu e minha irmã nascemos ela reza pela pessoa que dividiria a vida ao nosso lado no futuro. Eu só posso crer que você é o fruto dessas orações, afinal intercessão de mãe é arma poderosa que toca profundamente o coração de Deus. Eu creio.  Das coisas incríveis que já vivemos ao longo destes 4 anos, aquele foi o momento que o meu coração mais precisou de você. Ali eu vi o companheiro que estará comigo nesses dias que o Senhor nos permitirá viver. Vi todo o amor que tens por mim e pela minha família, a fidelidade ao nosso compromisso, o “na saúde e na doença”, que afinal de contas não precisa se referir a nós, pode estar se referindo àqueles que amamos, o “juntos para sempre” que não começará no dia em que dissermos SIM no altar, mas que é vivido desde agora, nos “sim” diários que damos um ao outro em forma de palavras e ações. Vi o nosso “time” em ação.

Quando olho pra nós, vejo que a nossa família já começou! Sim, vivemo-la hoje, neste momento, exercitando o respeito, (exercitando muito, muito mesmo) a compreensão, a fidelidade, a lealdade, o respeito e, acima e envolvendo tudo, o amor. O mesmo amor que aprendemos com os nossos pais e que transmitiremos aos filhos que o Senhor nos permitir ter. Que é antigo, passado de gerações, que cura os defeitos e ensina a amar melhor. Ensina a manter o tesouro mais precioso que se tem: a família. Ensina também que, quando todos se forem – pais, irmãos, filhos...-, seremos só nós dois novamente. Aliás! Dois? Não! Um! Sim, seremos um e pra sempre um. Um time.


Eu estou aprendendo, time. Estou me esforçando. Obrigada por me ensinar. Obrigada por aprendermos juntos. Obrigada por estar sempre pronto para ficar.