sábado, 13 de julho de 2013

Poeira

Meu caro, uma coisa apenas é necessária para que o indivíduo escreva: transbordar-se.

É perigoso, amigo,
essa coisa de entregar-se.
Não sem medo eu o fiz.
Não sem medo me dei,
me entreguei pra ti.

Toma, de bandeja,
meu coração.
Come-o sem cerimônia;
cães fariam igual.
É teu. Toma-o

Bebe-o. Digo, o sangue
que me corre
nessa veias pobres e finas.
Veias são raízes
que te plantam nessa vida.
Que me amarram em ti.

Há muito que espero
rezo, peço, imploro
pra um deus do tempo qualquer
um deus táquion que me mate
essa saudade imensa do futuro
que eu já tive contigo.

O nosso futuro aconteceu
há muitas eras atrás;
o passado ainda vai chegar
quando a gente lembrar
e sorrir com uma boca desdentada
daquelas tardes desvairadas
à meia luz do sol.

E a gente vai lembrar
um dia
que teve um tempo
que não precisávamos
de verbos para amar.
O meu sangue gritava.

Meu corpo disse
"tenho medo"
Teu corpo veio e
matou, acabou, saciou
os tais medos.
Teu abraço
sem palavras
teve a melhor das oratórias
Ave Maria
eu oro por ti.

De tarde, quando o sol se vai
eu penso de qual estrela
poderia ter vindo
o brilho dos teus olhos.
E procuro dentre os luzeiros
algum que possa, por acaso
estar faltando um pedaço
pra eu poder dizer
"Olha, tu veio dali"

É raro, nego, transbordar de ti.
Tu nunca me sacia,
nunca me completa
eu sempre quero mais
de ti.
Teu amor vai abrindo
sem discrição
cada vez mais espaço em mim
para ser preenchido
por ti.
Cada dia eu me deixo ir,
mais pouquinho,
ir morrendo
em ti.
Para ti.

Eu só quero que,
quando a gente for de novo
apenas poeira de estrelas,
o deus infinito permita que
eu fique na mesma constelação
que tu.

E assim quando o universo
couber de novo
na ponta do alfinete
eu ficarei unida a ti
pelo resto dos séculos
que nos faltam existir.



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