quinta-feira, 17 de maio de 2012

Dois Olhos Negros

Dois Olhos Negros - Lenine

A parte mais legal do beijo é o "pós-beijo". Quando os olhos se abrem e se encontram de repente, cúmplices, íntimos, inebriantes. Quando você não precisa falar nada, só deixar o momento continuar, sentindo o cheiro da pele do outro de modo que todo o resto do mundo perca completamente o sentido e as únicas coisas que ainda importem sejam aquela "pele", aquele "cheiro", aquele "gosto".

De uma coisa você não sabe: quando o beijo é bom, eu sempre olho pra cima depois. Isso mesmo, pra cima. A vontade é de fotografar o céu, saber se tem nuvens ou não, se tá estrelado, azul, cinza, vermelho, quantas estrelas têm, quantas janelas curiosas. Os olhos procuram guardar algo marcante que por acaso estivesse espiando o tal do beijo. Uma placa, um cata-vento, um poste, qualquer coisa! Já é mania minha.

Dessa vez, um relógio era o espião. Antigo, verde, de ferro, os números em algarismos romanos, parado. Sim, amor, até o relógio sucumbiu à nossa incrível fórmula de dilatação temporal. Já não existiam obrigações, minutos ou segundos - o universo perdia uma das suas dimensões afogada nos teus lábios. Também não existiam palavras ou gestos. Só existiam os teus olhos - escuros, apertados, brilhantes. Olhos que nunca ninguém usou pra mim, olhos capazes de me prender, paralisar, me fazerem mergulhar sem medo no mar negro que é o teu olhar.

A melhor parte de tudo é: saber que só eu posso nadar ali. Saber que enfim te vejo não só nos meus sonhos, mas aqui, ao meu lado, segurando a minha mão e fazendo tudo em volta parar. Quem precisa, amor, quem precisa de lua quando se tem os teus olhos para admirar? 


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