sábado, 24 de março de 2012

O livro dos mistérios

Fazia muito tempo desde a última vez que eu estivera ali. Cheguei com o coração cheio de saudade, querendo a calma que sempre sentia naquele lugar. O sol se fazia presente na sala, entrava por todas as frestas, iluminava o ambiente e todos os livros que ali estavam, quase como que num carinho. Um sol que transmitia vida e paz, sorrindo e dizendo que sabia a resposta para todas as minhas dúvidas.

Entrei, dei uma rápida olhada ao redor, senti o lugar e vi. Vi um livro no alto da prateleira, aparentemente inacessível pra minha pouca altura. Parei, pensei "por que não?", tentei, consegui. O volume era grande e a capa dizia que já nos conhecíamos de outras datas. Tinha cheiro de coisa antiga, cheia de história, era um cheiro bom - cheiro de lembrança/saudade, é sempre bom. Apertei-o forte contra o peito, parecia que já nos conhecíamos desde a infância e em 10 segundos já o tinha como um velho amigo. "Quanta saudade, parceiro!".

Entendi que um livro tão diferente assim não merecia ser lido como todos os outros, começando pelo começo, preso a uma ordem cronológica de fatos. Aquele livro era um enigma! Ainda não conseguia entender o porquê daquelas sensações e, curiosa, abri em uma página qualquer. Para minha surpresa, o livro respondeu. Em letrinhas tímidas me explicou que era a empatia quem dilatava o tempo! E empatia foi o que eu senti ao vê-lo. Agora, já era querência que crescia.

Daquele livro eu fui lendo uma página por dia. Falava sobre gatos, espionagem, baratas, militares, curiosidade, dilatação temporal, oração e culinária. Sem nenhum sentido aparente, mas firmemente tecido com fios de mistério. E eu sempre gostei de desafios. Aos poucos fui ligando o pontos, montando capítulos, construindo uma história que fosse minha, independente da que já estivesse escrita ali.

Era evidente que qualquer página lida em um momento diferente daria um rumo completamente novo ao mundo que criei. Aliás: crio. Posto que ainda não acabei de lê-lo/escrevê-lo, não posso vos dizer ainda qual o fim da história. É possível, inclusive, que o suposto fim da história seja o começo de uma outra bem mais emocionante. Não sei, talvez... O que eu sei é que as letrinhas tímidas e quase apagadas daquele livro já ficaram impressas no meu coração.