quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Serpente

Tem gente que fala que tem minhocas na cabeça. Eu tenho é uma serpente do tamanho daquela encantada que fica aqui embaixo de São Luís. Quando eu era pequena aprendi que a cabeça dela ficava ali na Fonte do Ribeirão, a barriga na Igreja do Carmo e a cauda na Igreja de São Pantaleão. A minha tem a cabeça nos meus olhos, a barriga na boca, a cauda no coração e me concede raros minutos de paz, fica o tempo todo em movimento, faz nem questão de se esconder.

Engana-se quem pensa que é lenda, ela ri e aponta sua linguinha bifurcada pra mim todo dia, sacudindo o chocalho bem no meu peito e cravando as presas na minha mente que é pra inocular litros e litros de veneno todos os dias.

Valei-me, São José de Ribamar, que se a serpente acordar de vez, vem abaixo meu coração! E nem vai adiantar,  não vai ter missa de 7 dias que me salve o miocárdio, não vai ter reza ou promessa que traga sossego pro espírito, não tem Donana que ordene o retorno às atividades normais!

Valei-me Nossa Senhora da Vitória, que o nome dessa serpente é saudade!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Shiiiiu! Assim ele não vem!

Se acalme, meu anjo, que nada é pra já. Amor não é assim que se faz. Não é correndo, não é com pressa, amor não é nissim miojo, é preciso bem mais que três minutos pra acontecer. Esse negócio de amor à primeira vista não existe, isso é encantamento, é fascinação, é aquela coisa de olhar e se impressionar, dizer UAU! Amor mesmo é devagar que acontece.

Calma, meu anjo, é preciso paciência. É preciso cozinhar o amor... Tem que escolher os ingredientes, deixar bem juntinhos pra pegar o sabor do outro, dourá-los com tardes ao pôr-do-sol. Demora pra ficar pronto, é assim mesmo! Tem que esperar até sair aquele cheirinho de comida boa, gostosa... Só aí você pode saciar sua fome de amor.

Amor também não é rock, rap, hip-hop. É música do Chico Buarque, bossa do Vinícius, balada do Lenine, arrastapé do Dominguinhos, é samba do Cartola. Tem que ter jogo de cintura pra amar. Você tem que dançar conforme a música. É bom quando se pode bailar com o outro (pode ser uma valsa), nem precisa saber dançar de verdade, basta que se possa colar o rosto no outro, basta que o rapaz abrace a cintura da moça e que ela se aconchegue nos ombros do rapaz.

Quem ama tem pressa de querer, mas tem paciência de esperar. Porque essa espera dá uma dorzinha gostosa e esse povo que ama é povo que até gosta de sofrer. Se são loucos eu não sei, mas chegam bem perto disso. Eles se apaixonam sem medo de ter outra decepção, e é por isso que amor não é brincadeira de criança. Só quem sabe perder é digno de um dia ganhar.

Todo amante precisa de coragem pra suportar as inquietações, as dúvidas, as noites sem um beijo, os dias sem notícia. Tem que primeiro se saciar em si mesmo, se encontrar por si e depois transbordar, já que é esse transbordar que vai dar ao outro. Tem que parar de anunciar, gritar, pôr anúncio no jornal "EU QUERO UM AMOR - ENTREGA URGENTE", tem que ser sutil. Amor se assusta com barulho. Moças, os rapazes procuram mulheres que procuram outras coisas além de namorado. Rapazes, moças procuram homens que mostrem que saibam o quanto vale a pena estar do lado delas. Repito: parem de gritar, parem de chamar. Deixem que um dia ele acha. Ele sempre acha.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O Bitols e o fim

"O Fabricio e a Cinthya se separaram" falei pro Filipe como quem fala de amigos próximos. Ele deve ter ficando batendo cabeça tentando lembrar de algum casal conhecido "ah, o Fabrício e a Cinthya, conhecemos lá... lá na... lá onde mesmo?" Até que perguntou "quem é Fabrício e quem é Cinthya?". Com pesar eu respondo "Fabrício Carpinejar, meu cronista (vivo) preferido e Cinthya Verri, mulher dele, escritora também, médica e linda".

Aliás, os dois eram lindos juntos. Desses casais de comercial de margarina, etc e tal. Tinham álbuns juntos, escreviam uma coluna no jornal juntos, seus blogs e tatuagens combinavam ela o chamava de "bitols" e ele escrevia poesias pra ela. E eu sorria abobalhada vendo as fotos dos dois. Amor alheio também encanta e aquece o coração dos outros. Não, não era inveja, juro juradinho (embora eu também quisesse uma foto onde segurassem a minha mão e dissessem que "amar é 'não soltar a mão dela nem na hora de apontar o nome da rua'". E eu lia e via as ilustrações que ela fazia pros textos dele e meus olhinhos brilhavam e eu me inspirava e escrevia também. Mas meu deus, o que será que aconteceu?

Ontem me explicaram quão volúveis são as relações humanas. Disseram que casais que brigam têm mais chance de ficar juntos que casais que não brigam e ainda profetizaram (dado a minha idade e particularidades da personalidade) mais dois anos de alguma felicidade conjugal pra mim seguido de um inevitável término ou, num cenário mais otimista, algumas graves tribulações. Ouvi tudinho bem abraçada com o Filipe. Ele não tem álbuns comigo, não dançaria ballet por mim, não desenha pros meus textos nem me deu nenhum apelido. Mas ele sabe apertar os olhos bem apertadinhos, canta pra mim e me chama "Mariana", que mesmo sendo meu nome cru e simples, já parece música na boca dele. Ele deita ao meu lado na grama e fecha os olhos, enquanto eu presto atenção nele e lembro de quando o vi dormir (mesmo sendo em sonho), reparo que ele fica lindo dormindo (ou quase), com as folhas da árvore brincando de fazer renda no rosto dele. Felicidade assim, simples assim.

 Fazendo as contas, ainda tenho 20 meses dessa felicidade, obrigada, e ficaria imensamente grata em contrariar toda e qualquer estudo do tipo, AMÉM.

Deve ter sido isso que aconteceu com o Fabrício e a Cinthya. Será? Sorte aos dois.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Fático

A gente pagou umas contas, andamos até o carro e fomos até uma pracinha que gostamos, onde um pseudo artista de rua nos enganou pela segunda vez com uma história de aniversário, despensa vazia, professores de arte sem dinheiro pra comer e um mísero pacote de biscoitos como almoço. A mesma peleja de 1 mês atrás, mas nós, como bons apaixonados - burros, lerdos, ingênuos e subitamente generosos - que somos, vimos ir embora mais cinco reais pro copinho do cara. Deixa pra lá.

Compramos um refrigerante e fomos olhar o mar do mirante da pracinha. O farol azul pisca pro vermelho, que pisca de volta e assim vai numa conversa infinita a noite inteira. Comentei que ali seria um bom lugar para um suicídio, pois abaixo do mirante tem um viaduto e se a pessoa não morresse da queda, certamente morreria atropelada. Ele argumentou que a queda não iria ser nem tão grande nem tão pequena e a pessoa teria que calcular o momento exato de se jogar a ponto que o motorista que viesse atrás não conseguisse mais frear e consumasse por fim o ato. Tanto faz.

O que eu acho realmente incrível é que lugares como aquele têm o poder de apelar pros nossos desejos mais secretos, como se uma loucura repentina nos atacasse e nos livrasse de toda a vergonha na cara e do medo dos olhares de reprovação da sociedade. Mais ainda: faz com que você goste deles. Então nós tiramos o sapato e sentamos no chão. Sim, no chão, na beira da rua. "Oh, quanta rebeldia! Andar descalço e sujar a bunda da calça". Tente você. Veja como parece que todos os problemas do mundo somem e você se sente livre, distante de todas as responsabilidades e convenções sociais. É bom...

Só que já é noite, tá frio e a gente se abraça, encosta os pés, lutinha entre os dedões - 36 x 44, o que não é lá muito justo - e sorrimos, cúmplices, enquanto o sentinela da Marinha nos olha e sente inveja, a esposa e o marido nos olham e lembram "do seu tempo", as duas moças de nariz empinado e salto alto fazem cara de nojinho, sabendo que lá no fundo elas também queriam mais era tirar o sapato e sentar no chão, do lado de um cara com os olhos apertadinhos e escuros, como são os do meu cara. Deixa eles pra lá. Eu nem ligo e encosto o rosto no pescoço dele, procurando aquele cheirinho de erva doce que tem ali.

A gente só quer isso, sabe? Essa coisa careta e simples de ficar junto, ficar perto. A gente também não quer muito dinheiro.Só queremos comida na mesa e coca-cola (e Fanta) na geladeira. Nada demais, só o básico. Só o que os inocentes e as pessoas sentimentais sempre fazem...

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Poema quase limpo

Que importa um nome?
Eu começo assim,
parafraseando Gullar,
que eu sou ruim mesmo
nem sei por onde começar.
Mas que importa mesmo,
tanto faz!
O que me importa é o agora,
esse tempo que tu faz

Fazer poema é assim, é tentar.
Um verso aqui,
outro ali;
Um pedaço de mim,
outro tanto de ti.
Feito a valsa que a gente dançou
naquela noite
no meio da rua.
Dançamos pra sempre
até um carro querer passar.
Ô DÁ LICENÇA SEU MOÇO,
DÁ LICENÇA PREU VALSAR

Que me importa as cadeiras, os bancos,
os tronos enfeitados dos reis,
se eu tenho 5 continentes de chão pra sentar,
pra deitar, pra rolar, tenho quilômetros
de árvores pra aproveitar a sombra
e descobrir contigo, descobrir-te amigo,
descobrir-te abrigo. Descobrir-te meu.

De que adianta os microfones, megafones,
se só servem pra camuflar o grito mudo
de quem é apático, de quem é inerte.
O meu não! Eu posso abrir os braços e gritar!
Gritar no meio da rua, no meio da praça,
gritar que caiu a farsa, que já chega de fugir!
Eu quero é ficar aqui, bem juntinho de ti!
Chega mais, chega mais, não precisa ter medo,
tu já sabe o meu segredo.
Vem, pode chegar,
chega que hoje eu sou toda mar.

Mas me diz o que eu faço, seu moço,
quê que eu faço se essa história é mais bonita
que poema do vinícius, que refrão da Elis.
Se sou artista e platéia,
se levo tombo e peço bis.
O quê que eu faço com esse amor
mais bonito que noite de lua,
mais bonito que a renda exposta na rua,
mais bonito que aquele pedaço de dia,
naquele banco, naquela escadaria,
com o sol tingindo d'ouro teu rosto
colado no meu. Tua respiração que acabou
sendo minha e já não se podia nem ver
quem é que respirava.
Era tudo uma coisa só.

Feito esse poema malefeito.
Feito a birra, a manha que eu faço;
feito todas as vezes que eu coloco
palavras na tua boca.
Que tu me diz - na minha cabeça-
que vai embora,
que já é hora,
que já cansou dessa brincadeira
e eu te expulso - na minha cabeça-
digo que também cansei.
QUE ME IMPORTA?

Tanto faz!
E vou chorar atrás da porta
junto com a Elis.
Aí tu vem - de verdade-
e me fala - de verdade-
que quer continuar aqui,
perto de mim,
e diz que adora conhecer
cada pensamento
d'uma cabeça de vento;
e sorri apertando os olhos,
brilhando os olhos;
Sorriso que não cabe mais na boca
e me pega desprevenida,
me puxa pra ti,
me cala com um beijo,
me desafia e faz mais:
diz que vai ganhar.
Bagunça com o meu brio,
mexe com o meu orgulho,
me deixa doida da vida,
doida varrida,
e no final só sorri.

Sorri porque sabe que não precisa
de mais nada além
do orbicular da boca,
do levantador do lábio superior,
 e do masseter
pra me vencer.
Não precisa de nada além
de dez quirodáctilos
pra me arrancar de mim
e me trazer pra ti.
Não precisa de nada além
de uma íris, uma pupila
e uma prega vocal.
Sabe que aí cabou-se tudo
cabou-se o mundo
afogado naquela avenida
que a gente atravessou inundada
-na minha cabeça.

Me chama pra guerra
pra lutar do teu lado
por uma renomeação de tudo.
Eu pego minha espada
- que é a caneta-
o meu escudo
-que é o papel-
a minha armadura
-que são meus pensamentos-
monto no meu cavalo
-que são meus pés-
e vou contigo, vou amigo
navegando na nossa esquadra
de barquinhos de papel.
Tu imponente capitão de mim.

Paro e penso -
na verdade, lembro
que já é madrugada
e te imagino agora,
sei lá se acordado
com um fuzil na mão.
Fecho os olhos e lembro
do sonho mais bonito
que eu tive contigo,
quando te olhei dormir.
Só olhei, não te mexi.
Acho que é pecado
acordar um anjo que dorme
ainda que for n'um sonho

Te ver dormir
tão calmo, tão sereno,
trouxe mais paz que mil abraços
teve força de mil laços.
E no meu sonho eu deitei,
fiquei do teu lado
e só te olhei.
Ali eu me completei,
nada mais faltava.
Podia cabar-se tudo binlí
que eu ia m'imbora feliz
com a minha lembrança.
Que na verdade é tudo
que um dia eu vou levar.

Hasta la vista, seu moço!
O que é felicidade?
O que eu tenho de verdade?
Tu me pergunta do espírito
e eu te pergunto "quanto calça"
"qual o sorvete preferido"
Não é superficialidade
é outro jeito de conhecer;
feito minha forma
um tanto peculiar
de demonstrar carinho:
arranco-te um pedaço do nariz
ainda intacto por um triz!

Fecho os olhos e treino
treino o meu melhor sorriso
pra quando te vir chegar
aquele que sorri junto
olho, boca, pernas e coração
Esse sorriso que só tu me traz
que só se acende quando te sente
que só nasce quando te tem
ainda que em pensamento.

E mais uma vez eu olho
e já é madrugada.
Francamente, parece piada!
Se tivesse mais 90 páginas
eu dizia que era poema sujo
e copiava de vez Gullar.

Mas já é madrugada no Maranhão
e até Donana colocou a touca e foi dormir;
a serpente calçou as pantufas e se recolheu;
a manguda já passou do quinto sono;
só a gente que não dorme!
É que é noite de São João
e eu sorrio lembrando do cheiro
de mijo, álcool, madeira
suor, pena, palha,
que vai me acordar daqui a três dias.
Cheiro que só essa viração
de vinte e oito pra vinte e nove tem.

Ainda tá cedo e eu quero mais é guarnicê
meu batalhão de 500 marias
e 500 anas. Tocar minha matraca
até o dedo estourar,
e sangrar sangue vermelhinho
das minhas veias finas,
das minhas véias rimas
que eu não soube arrumar.

Bem que eu queria ficar.
Mas tchau, pretinho!
Tchau que a gente se vê;
tchau que eu vou dormir
pra ver se sonho de novo contigo;
tchau que eu tenho que ir;
tchau que fica pedaço meu em ti
tchau que eu te tenho sempre aqui;
Tchau que eu nunca fui
tchau que eu tô sempre aí
tchau que não te preocupa
Pode deixar que eu me levo pra ti.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Rabisco 1

Faz horas que olho pro papel em branco. Já amarrei e desamarrei o cabelo um zilhão de vezes, aparei as pontas, diagnostiquei um transtorno leve de ansiedade e aproveitei pra lembrar o nome dos benzodiazepínicos e barbitúricos que já estudei. Vai que precise.

Os olhos queimam, a cabeça dói, o coração palpita, os dedos tamborilam nervosos em cima do teclado. Quero escrever, quero te falar, quero contar o que acontece aqui dentro, mas ao que parece, é tarefa hercúlea pra mim. Acho que desaprendi a escrever, perdi a prática entre a confusão dos sinusóides hepáticos ou entre os glomérulos renais. Sei lá. Essa luta "cérebro/coração X caneta/papel" suga todas as minhas forças, e eu não sou um Anderson Silva das letras, perdão. Só que eu sou teimosa e insisto em ficar aqui e tentar porque você precisa saber.

Precisa saber que do alto da minha mania de sempre querer explicar tudo e desse meu jeito falastrão, é diante de ti que eu me calo. É contigo que eu fecho os olhos e silencio pra só ouvir a tua voz, aperto bem forte minha cabeça contra o teu peito pra poder sentir teu cheiro e escrevo mentalmente o poema completamente sinestésico inspirado por ti e em ti. Teu gosto, tua pele, teu cheiro, teu olhar, todos os ingredientes de uma mistura que me deixa nem sei onde, só sei que longe daqui.

Precisa saber que eu dou muito valor pro meu espaço e adoro ficar sozinha pensando em 1001 coisas ou em nada mesmo, olhando prum ponto qualquer no horizonte. Gosto desse meu autismo adquirido. A diferença é que agora tem sempre alguém comigo, nem que seja nos meus pensamentos, fazendo com que eu admita - tal qual na canção - que eu "gosto quando olho com você o mundo e que gosto mais do mundo quando posso olhar pra ele com você". Sozinha. Só que junto. Mais ou menos isso.

Precisa saber que eu fico garimpando todo dia coisinhas de nós dois pra guardar. Um relógio que espiasse o nosso beijo, tortuguitas com recheio de brigadeiro, um botão de camisa, um prato de feijão! Pequenas coisas que saem do campo material e entram na nossa história parafraseando Getúlio Vargas sem nenhuma vergonha na cara ou respeito aos direitos autorais.

Precisa saber que amo ouvir tua voz, amo te ouvir cantar, amo te ouvir sussurrar no meu ouvido, amo te ouvir falar entre beijos o quanto queria que todo o tempo parasse e só restasse nós dois ali. Amo teu "avatar azul" - amo ao estilo (ou até mais) que o all star do Nando. Aliás, se eu soubesse, também faria uma música pro teu avatar azul.

Precisa saber que eu aproveito cada minuto, cada instante, que eu te aproveito nem que seja em 15min, feito namoro em recreio de escola. Todo tempo é válido, apesar de que é sempre pouco. Tenho fome e sede de tempo o tempo todo. Tenho fome e sede de ti.

Precisa saber que às vezes eu olho pro mar, pro céu, pros carros numa avenida movimentada e começo a sorrir. Sorrir não, gargalhar! E ainda que eu aproveito o barulho do ônibus que tá passando bem do lado pra gritar a plenos pulmões o refrão daquela música que me faz lembrar de ti. Exponho a minha saudade com canções, camuflo a tua ausência com sorrisos no meio da rua, uso os barulhos urbanos como pano de fundo pra música que criei pra gente.

Precisa saber que tem 4 luas que se não sou a menina mais feliz do mundo, certamente que sou uma delas. Certamente que posso sentir essa empatia que vem de você pra mim e me envolve como a correnteza de um rio, do rio que eu sempre achei que tu fosses - calmo, sereno e misterioso como tal.

Precisa saber que hoje eu amo devagar porque sim, já tive muita pressa, só que não me importo se já chorei demais, o sorriso em meu rosto só se ilumina quando te vê chegar...

Precisa agora me desculpar pelas palavras mal escritas, o texto mal elaborado, o tempo escasso, a voz cansada. A única coisa que não escasseia é essa saudade e essa vontade. Cada vez é como se fosse a 1ª vez e ainda melhor. Eu e você somos assim... N + 1 com claras tendências ao infinito.

domingo, 27 de maio de 2012

Gota

Que as luas de dezembro,
as águas de março,
os sóis de abril,
tenham piedade
do que não tem coragem
de dizer que por amor morreria
e que mutilando a víscera fria
vai, sem saber,
morrendo de amor
uma gota a cada dia.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Dois Olhos Negros

Dois Olhos Negros - Lenine

A parte mais legal do beijo é o "pós-beijo". Quando os olhos se abrem e se encontram de repente, cúmplices, íntimos, inebriantes. Quando você não precisa falar nada, só deixar o momento continuar, sentindo o cheiro da pele do outro de modo que todo o resto do mundo perca completamente o sentido e as únicas coisas que ainda importem sejam aquela "pele", aquele "cheiro", aquele "gosto".

De uma coisa você não sabe: quando o beijo é bom, eu sempre olho pra cima depois. Isso mesmo, pra cima. A vontade é de fotografar o céu, saber se tem nuvens ou não, se tá estrelado, azul, cinza, vermelho, quantas estrelas têm, quantas janelas curiosas. Os olhos procuram guardar algo marcante que por acaso estivesse espiando o tal do beijo. Uma placa, um cata-vento, um poste, qualquer coisa! Já é mania minha.

Dessa vez, um relógio era o espião. Antigo, verde, de ferro, os números em algarismos romanos, parado. Sim, amor, até o relógio sucumbiu à nossa incrível fórmula de dilatação temporal. Já não existiam obrigações, minutos ou segundos - o universo perdia uma das suas dimensões afogada nos teus lábios. Também não existiam palavras ou gestos. Só existiam os teus olhos - escuros, apertados, brilhantes. Olhos que nunca ninguém usou pra mim, olhos capazes de me prender, paralisar, me fazerem mergulhar sem medo no mar negro que é o teu olhar.

A melhor parte de tudo é: saber que só eu posso nadar ali. Saber que enfim te vejo não só nos meus sonhos, mas aqui, ao meu lado, segurando a minha mão e fazendo tudo em volta parar. Quem precisa, amor, quem precisa de lua quando se tem os teus olhos para admirar? 


sábado, 21 de abril de 2012

Se eu fosse você


Se eu fosse homem, não deixaria aquela garota especial escapar. Eu iria querer ter certeza que era ela! Mas se não desse pra ter, queria ter certeza de que iria lutar pra descobrir, pois por ela valeria a pena.

Se eu fosse homem, faria com que aquela garota se sentisse a mais especial do mundo. Não mediria esforços pra isso. A chamaria para sair, rezaria pra que ela aceitasse, subiria de joelhos a escadaria da praça Gonçalves Dias se ela dissesse "sim".

Ia contar cada minuto que faltasse para vê-la e, quando a encontrasse, daria um beijo em sua testa, entregaria a flor que comprei (ou roubei, do jardim de uma casa rica), seguraria sua mão e a levaria para ver o pôr-do-sol. Melhor! Eu admiraria ELA admirando o pôr-do-sol.

Eu cantaria Vinícius de Moraes pra ela, diria que eu sei e que ela também deveria saber, que já que a vida quis assim, nada nesse mundo a tiraria de mim. E se eu não soubesse cantar, então escreveria isso n'um bilhete e entregaria em suas mãos, beijando-as.

Se eu fosse homem, passaria o dia pensando naquela garota e e formas de fazer com que ela também passasse o dia pensando em mim. Não perderia nenhuma chance de vê-la, desejaria a cada instante escutar de novo o sorriso brincalhão dela. Ia querer que ela fosse a minha casa, iria fazer dela o meu refúgio.

Eu não teria vergonha de, todos os dias, desejar "bom-dia" e "boa-noite", de torcer pra que ela tivesse sonhado comigo, torcer para estar nas orações dela, torcer para que ela fosse grata por ter me conhecido.

Se eu fosse homem iria querer ser a segurança daquela garota. Não deixaria que lhe faltassem os meus braços, os meus abraços, cuidaria dela como um menino cuida dos seus tesouros de infância. Da mesma forma, não me importaria de voltar a ser menino, só pra que ela pudesse crescer e cuidar de mim.

Se eu fosse homem, abraçaria bem forte a sua cintura, levantaria com cuidado o seu queixo, olharia bem fundo nos olhos dela, com aquele olhar de quem já foi vencido por amor e que não se importa em servir ao vencedor, e daria um beijo nela. O mais sincero e apaixonado que eu tivesse, passaria uma eternidade admirando o seu sorriso, acharia aquilo a visão mais bela que eu jamais tivera.

E se eu fosse você, faria tudo isso aí comigo...

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Quando o rio encontra o mar


Da porta da minha casa eu posso ver o mar. De tanto ver, quase que enjoa, é muito mar pra todo dia! Mas às vezes, além de "ver", eu o "percebo" e isso, meu caro, é condição reveladora de mim. Eu também sou mar! Minha cabeça é toda maresia e meu coração é todo ressaca. Sei ser maré baixa, sei chegar de maré cheia, nem preciso de lua, minhas próprias ondas me enchem e me esvaziam.

O mar é grande por si só e esconde em si tantas cores e vontades que dá medo só de olhar, dá medo mergulhar, dá medo se perder, é bom só olhar, chegar na beira, pular ondinha, admirar e dizer "tchau".

Mas quando se fala de rio, não é bem assim. O rio é todo calmaria, todo mistério... Da minha casa eu não vejo rio, banhar n'um foi só uma vez . E foi bom. Foi gelado, refrescante, não sei, aliás! descobri que tu é de rio! É doce, calmo, paciente, misterioso, passa por mim lentamente, me mostra teus movimentos sinuosos, teu jeito esquivo de me falar.

Sim, tu és misterioso. É que no mar a gente sabe que não pode ir muito longe, que é perigoso se afastar da beira. Mas quando se fala de rio, ninguém sabe onde se escondem as correntezas. A tua correnteza não tem direção e me arrasta cada vez mais pra ti. Como e porque eu não sei, e nem adianta muito saber, não creio que fará alguma diferença. Rio é mais incerto que mar.

Acontece que em algum momento os dois podem se encontrar e aí dá confusão! Por quê? Porque de comum os dois só tem a água! Rio não é pra viver perto de mar. Enquanto o mar arde, o rio acaricia. Se o mar é salgado, o rio é doce. O mar se espalha pra todo lado, sem respeitar limite; o rio segue sempre seu curso passivo e sereno até que...

Até que um dia, por acidente ou capricho do destino, deságua no mar e se perde no meio daquele turbilhão, se espalha também junto com o mar. Os dois vão brincar juntos, vão se descobrir, vão se derramar um no outro, até que não se veja diferença entre eles, até que sejam um só gosto, um só corpo, uma só onda , uma só correnteza...

Minha mãe sempre disse que rio era perigoso. Pena que eu não escutei...

domingo, 8 de abril de 2012

Fé e decisão

Caminhar com Cristo é questão de decisão. Ao menos pra mim é. Nunca foi nem nunca será fácil, Deus não nos promete um mar de rosas, pelo contrário: alerta que seremos perseguidos, caluniados, alerta que sofreremos por amor ao Seu nome. Se Ele próprio, nosso mestre e senhor sofreu, tanto mais nós, simples servos seus.

E no meio de tudo que se levanta no mundo pra querer nos derrubar, ainda existe o que se levanta dentro de nós e contribui para que nos afastemos cada vez mais de Cristo. Não é fácil ser alvo de chacotas dentro e fora de casa, não é fácil se manter fiel nas orações, não é fácil perseguir à santidade!

Somos humanos e fracos demais! Quantas vezes deixo-me tomar por impaciência, por preguiça, quanto tempo precioso perco em atividades quaisquer e depois, quando sento para rezar, sinto meu corpo cansado, já é muito tarde, os olhos pesam e tudo é motivo para deixar "para depois".

Fé é decisão. Precisamos lutar contra nossa própria carne, nossas fraquezas e impotências. É ter SEDE de rezar, de estar na presença de Deus. "Orai sem cessar", mesmo sem vontade, orai sem cessar! Ore pedindo vontade de orar, mas ore! QUEIRA orar!

Tantas vezes nos reclamos que não sentimos a presença de Deus, nos consolamos dizendo que é uma fase, que vai passar, mas ao mesmo tempo não fazemos nada para que ela passe. Nessas noites escuras, a luz que nos ilumina é a da fé que alimentamos em Cristo. É ter a certeza de que Ele está conosco mesmo que nossa humanidade não "sinta". É decidir-se por Deus, buscar estar na presença d'Ele e não perder oportunidades para tal.

O sacrifício da cruz foi uma decisão corajosa. Porque tinha um objetivo forte fixo em mente Jesus não vacilou em momento algum. Sejamos corajosos também! Sejamos decididos! Decidamo-nos pelo céu!

sábado, 24 de março de 2012

O livro dos mistérios

Fazia muito tempo desde a última vez que eu estivera ali. Cheguei com o coração cheio de saudade, querendo a calma que sempre sentia naquele lugar. O sol se fazia presente na sala, entrava por todas as frestas, iluminava o ambiente e todos os livros que ali estavam, quase como que num carinho. Um sol que transmitia vida e paz, sorrindo e dizendo que sabia a resposta para todas as minhas dúvidas.

Entrei, dei uma rápida olhada ao redor, senti o lugar e vi. Vi um livro no alto da prateleira, aparentemente inacessível pra minha pouca altura. Parei, pensei "por que não?", tentei, consegui. O volume era grande e a capa dizia que já nos conhecíamos de outras datas. Tinha cheiro de coisa antiga, cheia de história, era um cheiro bom - cheiro de lembrança/saudade, é sempre bom. Apertei-o forte contra o peito, parecia que já nos conhecíamos desde a infância e em 10 segundos já o tinha como um velho amigo. "Quanta saudade, parceiro!".

Entendi que um livro tão diferente assim não merecia ser lido como todos os outros, começando pelo começo, preso a uma ordem cronológica de fatos. Aquele livro era um enigma! Ainda não conseguia entender o porquê daquelas sensações e, curiosa, abri em uma página qualquer. Para minha surpresa, o livro respondeu. Em letrinhas tímidas me explicou que era a empatia quem dilatava o tempo! E empatia foi o que eu senti ao vê-lo. Agora, já era querência que crescia.

Daquele livro eu fui lendo uma página por dia. Falava sobre gatos, espionagem, baratas, militares, curiosidade, dilatação temporal, oração e culinária. Sem nenhum sentido aparente, mas firmemente tecido com fios de mistério. E eu sempre gostei de desafios. Aos poucos fui ligando o pontos, montando capítulos, construindo uma história que fosse minha, independente da que já estivesse escrita ali.

Era evidente que qualquer página lida em um momento diferente daria um rumo completamente novo ao mundo que criei. Aliás: crio. Posto que ainda não acabei de lê-lo/escrevê-lo, não posso vos dizer ainda qual o fim da história. É possível, inclusive, que o suposto fim da história seja o começo de uma outra bem mais emocionante. Não sei, talvez... O que eu sei é que as letrinhas tímidas e quase apagadas daquele livro já ficaram impressas no meu coração.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Notas VIII

Não sou a menina mais bonita, legal, interessante, engraçada ou apaixonante do mundo. Não sou nem a da minha rua, e pouco importa, na verdade. Mas eu me sinto infinitamente superior a qualquer uma outra que leia livros do Augusto Cury, assista reality-shows ou goste de princesas da Disney - sim, me sinto uma Angelina Jolie perto delas. É um prazer pequeno, egoísta e sem muito embasamento que eu tenho. Não ligo.

Ontem eu passei o dia ouvindo Vinícius de Moraes, pensando que Chega de Saudade, Eu Não Existo sem Você e por falar em saudade, Onde Anda Você? Vinícius pra todas as horas e sentimentos. Pena que era tudo mentira, exceto o fato de que eu realmente queria saber por onde ele anda. Ai, que mentira!

Perguntei pra uma amiga o que ela achava, se ia dar certo, "será que ele gosta de mim"? Ela me respondeu com sólidos argumentos livremente inspirados em fatos do filme "Ele não está tão a fim de você". Vou assistir, prometo. Concluimos que o melhor mesmo era sonhar baixo, cultivar a amizade e manter os pés no chão. Me peguei dizendo que eu tinha outras prioridades para este ano, não estava a fim de perder tempo com essas bobagens. Ai, que quase verdade!

A propósito: quase verdade é uma mentira completa?

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Nem preciso de você

Eu não preciso de você, tenho certeza que não. Vivi tantos anos sozinha que já me acostumei a ser assim. Meu cérebro sabe que é desse jeito que a banda toca. Mas o coração quer porque quer mudar o ritmo da canção. Quem vencerá?

Quem vencerá eu não posso dizer ainda, mas posso te garantir, menino da camisa azul, que a batalha vai ser longa. Não é porque a tal camisa não me sai da cabeça e eu vejo tudo azul quando abro os olhos, quando fecho os olhos, azul, azul, azul. Quase como no bolero, "tudo azul, lindo como a cor do mar" etc e blá blá blá. Sabe, tu ficas bem de azul.

E é porque eu vejo os teus dedos passarem leves e compassados pelas teclas do instrumento, executando perfeitamente cada nota, que eu fico pensando quantas canções aqueles dedos poderiam tocar pra mim, ou até mesmo otras cositas más que os mesmos dedos poderiam fazer por mim... Coisas das quais eu iria gostas... Só que eu não preciso realmente de você, que fique claro.

Tu és um capricho meu, um brinquedo feito para entreter meu coração, um boneco de azul anil. Não preciso que fales nada, pode deixar que eu mesma te dou a partitura da canção. Eu falo, você responde- e se não responde, não tem problema, posso muito bem encontrar as desculpas certas por ti. Veja bem, meu amor, nem pra mentir pra mim eu preciso de você.

O que eu preciso está bem claro, preciso sair desse tédio! Preciso fingir sofrer, fingir gostar, me sentir personagem de uma história de amor, correspondida ou não, não interessa, todos amam, eu tenho que amar também. Meu "amor" por ti é mero desencargo de consciência, quero cumprir com minhas obrigações morais na sociedade.

Vou fazer tudo como se espera de uma moça como eu. Te mandarei mil e uma mensagens de amor, suspirarei outros zilhões de vezes, encontrarei as mais mirabolantes coincidências para provar que é o destino que conspira a nosso favor, te amarei eternamente até me cansar! Serei perfeita no meu papel de amante não correspondida. Digna de um Oscar, eu diria.

Fique atento, amor, descobri que não preciso de você agora. Descobri que preciso de você pra sempre.

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p.s: pra ti, uma das malas mais pesadas que eu carrego. Cumpri a promessa. Feliz aniversário =)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Relicário


Faz pouco mais de 5 meses que eu não escrevo uma linha aqui. Nem aqui nem em lugar nenhum, aliás. Não foi por falta de motivo, amigos. Motivos bons, em tempo! A vida foi muito boa comigo nesse final de 2011 e começo de 2012, graças a Deus! Aliás, tenho certeza que é Ele quem proporcionou todas estas pequenas grandes vitórias! O meu batismo, minha 1ª Eucaristia, os amigos novos, os antigos que voltaram, o Ministério Universidades Renovadas, a comunidade Shalom, NOSSA! Só Deus mesmo para nos dar essa alegria que não passa!

Contudo, não vou mentir, estive a vias de apagar este blog, e já com o dedo coçando para apertar o "delete", resolvi ler os textos antigos, desde os primeiros até os últimos. Perdi completamente a coragem. São parte de mim, cada um deles! Pedaços de histórias que já se foram, mas que são tão minhas a ponto de terem sido responsáveis pelo ponto onde estou agora: o equilíbrio. Encontrei um norte, algo onde me segurar, algo forte, algo que não passará, algo vivo, verdadeiro e fiel. E como eu estou apaixonada por este "algo" que me seduziu e me atraiu para si! Tudo é bem mais bonito quando se olha daqui, aliás.

Achi que tinha perdido o prazer de escrever, de colocar no papel minhas dúvidas, alegrias, inquietações, mas agora, enquanto os dedos passeiam rápidos pelo teclado, vejo que ainda está tudo aqui! Pelo contrário, antes faltariam palavras e páginas para que eu pudesse descrever tudo o que vivi enquanto estive ausente deste meu espacinho. Mas eu voltei e, como diria vovó, "o bom filho à casa torna". Retornei. Continuarei a construir o relicário de mim.