sábado, 14 de maio de 2011

Notas VII

Escritor é raça ruim. Aliás, digo nem os escritores, os aspirantes também o são, talvez em grau ainda pior. Gente que escreve, pronto. Raça ruim, egoísta, egocêntrica, cínica, mentirosa, falsa e manipuladora. Ainda que digam que não, são capazes de mentir olhando nos olhos - discípulos fiéis de Capitu. Fingem-se de loucos para melhor passar, fingem-se de mortos, de vivos, de tristes, de qualquer coisa que o valha, apenas para melhor servir. Nem que seja de palhaço.

Engana-se quem pensa que é amado por um escritor. Eles não amam pessoas, amam divas, musas inspiradoras. Ama - em verdade - a si mesmos. Os outros são apenas motivos para crônicas, contos, poesias. Engana-se também quem pensa que sofrem por uma desilusão amorosa. Desilusões são, via de regra, ótimas oportunidades para o crescimento da sua técnica bem como do seu acervo literário. Acontece, inclusive, no submundo da escrita, competições para decidir quem sofre mais. Lágrimas são sinais de vitória, motivos para se vangloriar. Cicatrizes de guerra, vá ver.

Escritores ficam realmente tristes quando estão felizes. Aí sim, se a vida está bem, se a cidade não está um caos, se tem uma Marília apaixonada por eles, aí sim se desesperam. Não há motivos para solidão, não há motivos para criação.

Escritores se apaixonam pela dor, se agarram a ela o máximo possível. Prolongam o sofrimento para, assim, fingirem que são felizes. Se não render amor, que renda ao menos bons textos...

P.S: Mas não acredite muito em mim, não. Sabe deus se não estou mentindo também...

3 comentários:

  1. Um pequeno upgrade em Fernando Pessoa então: não é só o poeta. O escritor também é um fingidor...
    Excelente texto e você tem toda razão. Pessoas criativas amam pessoas criativas. Ou amam inspirações. Parabéns!

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