quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sobre um sonho


"Voltando pra casa, os dois no ônibus, um silêncio mútuo de gente que tem muito o que falar, contar, mas nem imagina como seria o começo disso. Ela olha pela janela, lá fora chove cântaros. Ele olha pra baixo, balança as pernas, cantarola alguma música do Iron Maiden, vai ver nem pensa nela no momento, vai ver cogita ter feito uma grande besteira chamando-a pra sair.

O ônibus pára e uma dessas caixas de som humanas entra. No último volume, ouve-se "Iris", do Goo Goo Dolls. Ela se assusta, arregala os olhos, "parece que é perseguição! Parece não, é!". Um brilho de lágrima se forma nos olhos da moça - ele percebe, lembra da música. É a música do outro. Em silêncio, aperta a mão dela bem forte, olha bem fundo nos olhos e o olhar se estende p'rum abraço de isolamento acústico: "Vem, aqui eu posso te proteger do que ainda te machuca". Cumplicidade é isso."

E aí, hein, moços? O quê que eu faço com esses sonhos bonitos feito quadro do Renoir? Se continuar desse jeito, até abro mão de dormir às 4 da manhã e vou dormir mais cedo, que é pra ver se sonho tão bonito assim de novo.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

À espera de um desastre

Camboa - São Luís - MA

Em um domingo qualquer por aí eu pensei: "Que saco, agora vai ser a noite todinha esse povo falando de enchente". Não liguem, é só a minha mania de acreditar que a imprensa supervaloriza as tragédias pra render mais audiência. Em alguns casos, não deixa de ser verdade. Em alguns casos.

A tragédia causada pelas chuvas no RJ, SP- estados mais atingidos - é capaz de causar um misto de sensações dentro da gente. Primeiro, pena por todos aqueles que perderam suas casas, famílias, por todos os filhos órfãos, por todos os pais órfãos. Sonhos e trabalho de uma vida inteira que foram destruídos. Depois, uma vontade quase que insana de ajudar, de estar lá, de levar um pouco de consolo àquelas famílias tão necessitadas de atenção e carinho. Mais ainda: sente-se raiva e indignação! Como os governantes permitiram que a tragédia assumisse proporções tão grandes? Como foi mostrado pela imprensa, desastres iguais ou maiores já haviam acontecido, mas as autoridades continuaram apáticas, sem se importar muito com a situação. Tragédias anunciadas, queridos, só que ninguém deu muita importância.

Eu não sou de me comover fácil, fico sempre com um pé atrás diante de qualquer atitude "solidária", de tanta exposição e "preocupação" da mídia. Vai ver até seja por isso que eu evite falar desse tipo de coisa no calor do momento, quando ainda é moda falar sobre. Ou vocês não perceberam que, como mágica, as vítimas da enchente sumiram dos noticiários e das rodas de fofoca? Tá todo mundo esperando o próximo furo de reportagem. Desastre antigo não dá ibope.

E no meio de tanta confusão, de tanto falatório, não faltou quem dissesse "poxa, eu queria ir pra lá", 'se eu tivesse dinheiro...", "ahhh, queria tanto ajudar...". Vamos combinar, né minha gente? Acho que já falei que não dou a mínima bola pra benfeitores sazonais. Você vai ficar esperando acontecer uma tragédia do lado da tua casa pra ir ajudar, é? Vai esperar a Lagoa da Jansen transpordar, a ponte do São Francisco cair ou coisa do tipo? Você não está no RJ, mas tenho absoluta certeza que tem alguém precisando de comida aí pertinho da tua casa. Certeza que tem alguma família precisando de roupas, de consolo, de teto, vai ver até mesmo no teu bairro. São pessoas que tem o trágico como cotidiano, sabe? A diferença é que não aparecem no Jornal Nacional.

Antes de se meter a arrumar a casa alheia, procure ver se a sua não está bagunçada também. Não precisamos ir muito longe para fazer o bem e perceber que gente precisando de gente existe em todo lugar e a todo momento. Abraços!

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Notas VII

Acho que nenhum artista mereceria me ter como fã. Sou muito relapsa, não me interesso pela biografia deles, não sei a data do aniversário, cor, comida preferida. Se é uma banda, não sei o nome de todos os integrantes, todos os cd's, a história do nome do grupo, essas coisas. Aliás, nunca compro cd's, só tenho os que ganho dos meus amigos. Não compro pôsteres, revistas, não fico procurando fotos na internet, não compro ingressos de shows, não ouço todas as músicas, só ouço e faço o download aquelas que mais me agradam. Não tenho discografias completa de nada nem ninguém. Acho impossível gostar de toda a produção de um artista.

Na verdade, nunca gostei especialmente de coisa alguma.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Pseudo ultra-românticos

"E esse mix de lágrima, catarro e vômito me deixa bem menos bonita, não é verdade? É que eu não tenho saco - nem idade - pra amar com essa intensidade."

Toda vez que eu vejo um perfil com uma frase de Clarice Linspector ou de Caio Fernando Abreu, tenho vontade de dar um bicudo estilo Anderson Silva na criatura. Não pela qualidade dos escritores, e sim pelo naipe dos leitores, já que a maioria pegou aquilo no "Pensador" ou em alguma comunidade "Perfis prontos pra Orkut". Legal.

Essa enxurrada de guri metidos a poeta byroniano me incomada. Muito. Você não vai morrer de tuberculose aos 21 anos; vai no máximo pegar um resfriado, uma virose. Você não vai escrever um livro considerado clássico nacional ou internacional. Vai ter um blog - melhor que este, espero -, um tumblr ou um twitter. Ou os três, mas não o livro. Você não vai se embriagar de vinho e começar a declamar poesias em cima da mesa d'um bar. Vai beber cerveja, Ice, começar a cantar alguma música da Cláudia Leite e fazer bunda-lelê se achando o máximo.

Antes de virem com suas "alminhas" e "coraçõezinhos destroçados", antes de chegarem com "respostas indubitáveis" que te esperam em "esquinas gélidas", vá lavar uma louça, varrer uma casa, arrumar um quarto. Desligue o PC e vá ler um livro! Estude para o Enem! Você tem 17, 18, 19 anos e não foi aprovado em 9 vestibulares pra Medicina!!! Isso deve significar alguma coisa... Não sei não, mas pelo andar da carruagem, algo me diz que a próxima escola literária não sairá dessa geração. Chega de cosplay de Linspector ou de Álvares de Azevedo, ok? Beijos!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Faticamente

"Ei"
"Oi"
"Teu nome é 'Ei'?
"Só se o teu nome for 'Oi'"
"Meu nome é 'Oi', como tu sabia?"
"É que faz tempo que eu procuro um Oi assim
Só que quando achei, o Oi não era pra mim"

Eu podia tá matano
Eu podia tá robano
Mas tô aqui poetizano
Quer dizer, tentano
E nem vem que eu tenho licença
Licença P[r]o[f]ética

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Notas VI

Quando eu disse que precisava da tua ajuda para esquecer o outro, era pra ter lido: "Ainda não sei se te quero ao meu lado, mas cada dia que passa estou mais tentada a pensar que sim".

Precisarei ser mais específica?