segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Meu amigo andarilho

Muito tempo atrás li um dos livros que passaram a nortear a minha vida. Um exemplar matusálem, quase, de páginas bem amarelas, roídas nas bordas, capa desbotada e folhas ameaçando soltar. Minha mãe, em uma de suas raras faxinas, estava pronta para jogá-lo fora no lixeiro mais próximo. Ainda bem que os meus olhinhos bateram nele e, por sua pequenez e simplicidade, o volume chamou a minha atenção. Chega de enrolação. O livro chama-se "Amizade talvez seja isso", do Pe. Zezinho.

Ele não conta uma história apenas, mas uma coletânea de cartas, poemas e textos escritos pelo padre para aqueles que puderam partilhar do seu amor e confiança. São histórias de amizades jovens, velhas, que mudaram ou não, se perderam, não importa, nunca foram esquecidas. O livro busca, acima de tudo, permitir que o leitor se encontre em um dos amigos citados e reflita sobre o que é, verdadeiramente, amizade.

Eu tenho amigos. Poucos, mas tenho. Se for contar, acho que os verdadeiros, aqueles pra quem eu ligaria às três da manhã, o número não chega a sete pessoas. E eu sou feliz com eles. Tenho um amigo, em especial que me dá muito trabalho e dor de cabeça, além de muitas, muitas vezes me fazer duvidar da reciprocidade dele. Somos bem parecidos. Parece que a gente vive num mundo que as palavras criaram pra nós. Ele gosta de poesia; eu, de crônicas. Ele poemiza tudo;eu, conto a minha vida a mim mesma como se estivesse num texto do Veríssimo.

Ele ama com uma intensidade incrível, mas só demonstra isso àquelas sortudas que receberam seu olhar de homem. Por isso, acho que ele vai ter que se apaixonar por mim pra entender que não se deixa uma moça sozinha e trancafiada numa cidade hostil. Acontece que nós temos a mesma mania besta de nunca olhar pra quem realmente gosta da gente, aí já viu, a nossa situação é crítica. E eu gosto dele, sabe? Gosto muito. Mesmo ele tendo me feito chorar quando eu soltei, sem querer, um "eu te amo" e ele me olhou com cara de paisagem, ajeitou a mochila nas costas e disse "legal". Tive que explicar que amigos também dizem "eu te amo", mas, mesmo assim, nunca mais arrumei coragem para repetir o feito.

Foi aí que eu me lembrei do livro, que em uma das histórias mostrava que a amizade não precisa de recompensa eterna e na mesma proporção do que se dá. A gente é amigo de quem gosta e de quem se sente bem perto. E eu gosto dele. E me sinto bem perto dele. Então por ele faço as coisas sem esperar por um retorno rápido e na mesma intensidade. Faço e sinto por ele porque me faz bem fazê-lo e senti-lo. Meu amigo é do tipo que se fecha pro mundo, às vezes, porque gosta demais das palavras e das suas próprias musas. Por isso eu respeito o seu silêncio, o seu escapismo, pra depois me saciar com as linhas e versos que ele produz.

Ele pode não me deixar mil e um recados, não me ligar todo dia, não me encher de flores ou presentes. Mas quando eu precisar de alguém que ouça as minhas frescuras de menina besta, ele sempre me empresta os ouvidos e o ombro. Sei lá, amizade talvez seja isso...

Feliz aniversário, amigo.

Um comentário:

  1. Tá... Eu quase chorei aqui, mas segurei, pois já estou sendo molhado demais por essas chuvas de SP. Na verdade eu queria apenas guardar essas lágrimas pra mim para que, de alguma forma, eu sinta que eu poosso sentir seu frescor a qualquer momento. Obrigado, Nega do leite.

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