quinta-feira, 18 de março de 2010

Nosso circo de horrores


Que os seres humanos sempre tiveram verdadeira atração e gosto pela tragédia – alheia, que fique claro – é fato. O que vemos hoje é a mais pura demonstração de tal sentimento: tais desventuras são vendidas por jornalecos ao preço de R$0,25, folhetins estes que, caso sejam amassados, jorram sangue, caso sejam sacudidos, despejam balas. O assassinato, estupro, seqüestro, roubo é sempre a manchete, deixando claro quem é (ou quem são) a(s) estrela(s) do dia. O que mais me incomoda – intriga, na verdade – é a frieza com que os mais horrorosos casos são apresentados: “Fulano da Silva foi morto ontem com três balaços no rosto”. Balaços??? A criatura levou três tiros, “pelamordedeus”! Por mais incriminada que seja, certamente há alguém chorando por sua morte, certamente há uma mãe em casa lamentando-se pelo seu filho. Quem sabe um pouco mais de respeito não só ao ser - humano, mas à vida seja necessário.

As tragédias viraram espetáculo, fatos que nos despertam de nossa modorrenta vida cotidiana e nos dão algo sobre o quê “matraquear” na porta da rua. Eis que temos nosso próprio circo de horrores! Perceba, leitor, eu não critico apenas os tais jornalecos acima citados, afinal, temos em nosso país direito de liberdade de imprensa assegurado pela Constituição. É óbvio, todavia, que ninguém ficará falando ao vento; se há jornais, é porque há quem os leia. Alguém lucra com seu choro, alguém lucra com a sua curiosidade funesta, alguém lucra com o seu interesse pela desgraça alheia.

Enquanto acendemos nossas velas para os Darios da vida, torcemos para que não sejamos os próximos – “ai minha filha, bate na madeira!” – nessa roleta russa cotidiana.

Como já dizia Renato Russo:

"É sangue mesmo, não é mertiolate."
E todos querem ver
E comentar a novidade.

"Ó tão emocionante um acidente de verdade."
Estão todos satisfeitos
Com o sucesso do desastre

P.S: Leia também "Uma vela para Dario" (Só os melhores)

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